terça-feira, 24 de junho de 2014

SÃO TOMÁS DE AQUINO



São Tomás de Aquino teve uma importância destacada no pensamento medieval em relação ao cristianismo.
O pensamento de Aristóteles, firmava-se de tal modo, que era preciso chegar a uma posição para que os fundamentos cristãos não se tornasse ameaçador pois,  suas obras eram ensinadas por clérigos na Faculdade de Artes, o tomismo buscou associar a filosofia à teologia para que não contrariasse a fé.
Apesar de São Tomás, estudar a fundo a filosofia de Aristóteles em função da teologia "importa não perder de vista que os termos e conceitos aristotélicos devem ser interpretados à luz do pensamento do Tomás" (Pág. 448)

Tomás de Aquino nasceu em Nápoles entre 1224 e 1225, foi educado em um Mosteiro, estudou artes liberais, foi confinado a vários meses ao cárcere por seus irmãos, restituída a sua liberdade foi à Paris e à Itália e compôs a Summa contra Gentiles . Já em Paris de 1269 a 1270, luta com o aristotelismo averroísta, falecendo em 1274 no Convento em Fossanova.


1. Filosofia e Teologia
Pela tradição cristã, S. Tomás esclarece a diferença entre filosofia e teologia, ao mesmo tempo em que faz uma crítica entre as duas como colaboradoras uma da outra, mesmo que ínfima. Mesmo que alguns pensadores cristãos já tivessem percebido essa diferença, nunca se manifestaram como Tomás de Aquino.

I. A Filosofia e a Teologia diferem por sua finalidade. A teologia apresenta somente aquilo que devemos saber sobre a verdade, referente à salvação (As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei. Dt. 29.29). A filosofia busca a origem ou o porquê de tudo ignorando fontes de pesquisas.

II. A filosofia e a teologia diferem por seus respectivos métodos. A filosofia busca argumentos em coisas, nas coisas aparentes do mundo externo. A teologia busca respostas baseadas em Deus, no que Tomás de Aquino se refere "a Primeira causa", onde há uma busca mais íntima, mais detalhada e mais convincente pela perfeição que transcede os limites da ordem natural" (Pág. 450). A filosofia começa sua pesquisa pela criatura e chega em Deus e a teologia pesquisa inversamente, pois a criatura é o resultado da "Primeira causa".

Tomás de Aquino não se põe como defensor da separação da teologia e filosofia, mas mostra a colaboração entre as duas.
Harmonia entre fé e ciência, pois ambas provém de Deus.  Mesmo a ciência para chegar a uma conclusão ela precisa de uma autoridade para ser revelada, aonde na fé toda essa autoridade procede de Deus. O conhecimento humano, desde o princípio, é Deus quem favorece ao homem. As coisas reveladas pela ciência precisam de uma comprovação para serem aceitas como verdades, e não pela metade. Quando acontece na sua totalidade, o pensamento sobre tal coisa, no final se chega a origem da criação, que é Deus.
Para que se acredite na verdade da razão, é necessário pensarmos com a fé. O cientista, chega às respostas independente de fontes de pesquisas, simplesmente à suas próprias conclusões. A fé, que ele acredita naquilo que ele está dizendo como verdade.
Mesmo, ainda que ele inicie alguma pesquisa, o pontapé inicial é referente à fé em Deus e de onde surgiram todas as coisas, o ser e o não ser.
O valor da filosofia para a teologia. A filosofia busca defender a fé, racionalizando-a. Ela busca a sabedoria das coisas naturais, e quem conhece de onde vem as coisas naturais não cai no erro de ignorá-las, e cada vez mais anunciam a soberania de Deus. Aqueles que buscam um estudo sem o conceito de Deus, deverão aguardar a sua recompensa no juízo final.


2. Teodicéia

Devido a orientação aristotélica, Tomás de Aquino mostra que é preciso partir dos sentidos para compreender a teodicéia, levando em consideração que Aristóteles era filho de médico e buscava no visível compreender o mundo que vivemos. E a partir dai, ele irá basear-se em fatores externos para a levar ao conhecimento de Deus.

 É em Summa contra Gentiles e Suma Theologica que Tomás escreve sobre a existência de Deus, sendo o segundo mais detalhado, onde encontramos que Deus é o primeiro motor, pois todas as coisas para funcionarem precisam de uma energia, e essa energia é Deus, esse motor é Deus, tudo funciona porque Ele as põe para funcionar. Esse "Primeiro motor" é a causa de tudo ao nosso redor mover-se, todos os sentidos realizarem seus atos.

Tudo o que existe é porque sempre existiu. O que não existe, é porque provavelmente nunca existiu. Para existir alguma coisa é preciso que antes dela tenha existido algo semelhante a ela. Se existirmos, é porque alguém existiu antes de nós. Mesmo que se tenha provado, que alguns seres se adaptaram ao ambiente, é algo que foi forçado pela natureza mas, nada que tenha sido transmutado exorbitantemente.

Para ser, e ter qualidades, é necessário que se tenha algo anterior como máximo, que tenha uma paixão acima de todas, e esse máximo é Deus. Somos "co-herdeiros" e "participantes" também de sua essência, de seu amor, transmitido para nós que por sua vez por nós a outras pessoas. Nos tornamos nobres, bondosos, chegando à perfeição por que Deus participa isso em nós.

Na teodicéia, não se pode ignorar a superioridade de Deus, no tomismo se defende a ideia de que Deus é o soberano e governante de todas as coisas. Para se chegar ao fim é preciso que esse "primeiro motor" seja ligado e consequentemente guie em direção ao objetivo. "Ora, o que não possui conhecimento só tende ao fim quando dirigido por algo conhecedor e inteligente, como a seta pelo arqueiro. (Pág. 456) E aquele que não obtém do conhecimento, não chega ao fim que se deseja mas, estará fadado a perecer.

Enquanto que sobre as propriedades de Deu, consegui entender o quanto que todas "as criaturas são semelhantes a Deus" (Pág. 458 - 2.a), quanto às suas características, qualidades, porque foram criadas por Ele, e consequentemente podemos ver Deus em tudo o que há na terra e nos céus.


3. A Criação

Há em Deus um intelecto, por isso criou o mundo com diversas formas, e essas formas dá-se o nome de ideias. As ideias provém de um intelecto, para que o mundo fosse criado do jeito diversificado que é, é porque algo inteligível o fez, então só pode ser Deus, o qual conhece tudo o que criou.

Em relação ao começo do mundo, o Aquinate vale-se de suas pressuposições, levando-o a mesma explicação dos dogmas, aproximando-se do aristotelismo. E ele mesmo afirma que o inicio temporal do mundo não pode-se valer somente de argumentos filosóficos científicos, pois juntamente com o mistério da Trindade, ainda não é desvendado aos homens. Somente concordemos pela fé, o que é a verdade absoluta em Deus.

A outra questão, é: até que ponto a criatura é dependente de Deus, e que espécie de autonomia lhes havemos de atribuir?
Segundo o pensamento de Aristóteles sobre a Teoria do Conhecimento para buscar suas respostas provém de 4 causas:

Causa material: de que a coisa é feita? No exemplo da casa, de tijolos.
 Causa eficiente: o que fez a coisa? A construção. 
Causa formal: o que lhe dá a forma? A própria casa. 
Causa final: o que lhe deu a forma? A intenção do construtor.
(fonte: http://www.psicoloucos.com/Aristoteles/teoria-do-conhecimento.html)

Pressuponho que Tomás de Aquino, assim sugeriu seu pensamento em relação a dependência para com Deus, uma vez o arquiteto dar a forma externa e nada estiver lá dentro para que seja conservada a casa, ela definhará, sucumbirá aos escombros, ao desgaste que o tempo traz, logo, um ser sem Deus não tem como existir em sua totalidade e aparência inicial. Mas como Tomás definiu que mesmo que um ser viva e seu progenitor não viva mais, ele continuará existindo; levemos para o lado da sua existência em vida, como seria sem a educação ou repasse de valores tradicionais, morais e éticos dados geralmente do progenitor, para sua sobrevivência no mundo?

Analisando anteriormente, vimos que o mundo foi criado para refletir a personalidade de Deus, a sua perfeição. Também, notamos que o tomismo explica o quanto de hierárquico ha no mundo onde um sobressai ao outro em ordem, tamanho ou funcionalidade. Desde já pelas diferentes formas e aspectos do mundo já se vê uma grande desigualdade em relação às coisas criadas.

Mesmo sendo criados, à perfeição de Deus, o ser tende a cair e tornar-se uma criatura imperfeita. ("E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis." Rm. 1.23)
Deus não é a causa do mal. o mal é uma privação do que é perfeito, não se pode responsabilizar a Deus, do mal causado quando se dá um abandono a Ele.


4. O homem

O homem foi criado com todos os sentidos dos animais e plantas com diferença, que tanto o homem quanto outros seres inanimados há a união acidental de sensitividade, como calor, frio e etc. Mas somente no homem há a união substancial, aquilo que trará a ele um ser completo que um sem o outro não vive, pois a alma para exercer as funções precisa de um corpo.

A alma é uma forma espiritual pequena, existem diversas almas para que cada ser seja um indivíduo. A alma, mesmo ligada ao corpo e transcendente, ela não sobressai-se a ele. A alma mais perfeita é a do ser humano, ainda que a dos animais se assemelham por serem dependentes.


5. Teoria do Conhecimento

 Destaco aqui, o ponto 4 da pág. 474, "o conhecimento da alma e de Deus", para se conhecer o homem tem que atentar para a sensibilidade, olhar para dentro de si mesmo e se esmiuçar, enquanto que isso ocorre percebe-se logo o quanto se alma conseguiu-se elevar-se a altura de Deus, o quanto ela conseguiu chegar o mais próximo de Deus. Daí vê-se o que realmente busca o homem quanto a sua elevação e perfeição.


6. Ética

O homem foi criado para o fim, como todas as coisas criadas. O homem é capaz de compreender esse fim e daí se dota de conhecimentos.
o intelecto tende a conhecer o que é o certo, e passa exercer naturalmente os princípios sem notar, pois ele sabe aonde ele quer chegar, mesmo sem sentir.
A liberdade na filosofia é essencial, não  se pode negar a liberdade de escolher qual caminho se quer seguir, qual opinião se quer expressar ou que pensamento se quer infundir. Com o livre arbítrio podemos distinguir aonde queremos chegar, se viveremos para Ele conforme ele idealizou ou se serviremos para repreensão.

Natureza da bondade moral.  Quanto ao conceito do ato humano há a voluntariedade interior e a exterior. No interior há a intenção, de se chegar ao fim com atitudes boas ou más. No exterior, tende a se fazer a primeira coisa que se tem vontade.

 No saber, definimos a virtude na vontade de praticar o bem. Mas segundo o tomismo, ela é aplicada em três regulamentos: justiça, temperança e fortaleza, é a partir daí que desencadeia a atitude do homem.

Tendo em vista as leis que regem, a conduta externa do ser humano, não importa o lugar, a comunidade, a tribo, haja em consideração que elas estão interligadas a um só legislador. Todas as leis do mundo, têm origem à "lei eterna" (Pág. 481).



Considerações
Em todo o estudo sobre São Tomás de Aquino, percebe-se que ele foi um mestre na escolástica medieval. Suas obras são de fundamental importância na discussão filosófica da teologia, e como não poderia deixar de apreciar, a sua integridade como cristão, firmeza em suas teses e honestidade nas suas palavras quanto às dúvidas surgidas em meio aos estudos aristotélicos.
O que me trouxe muitas perguntas e ao mesmo tempo respostas vieram à minha mente durante essa leitura, foi a cerca da temporalidade da criação e a união entre homem, alma e a Trindade.
Fez-me repensar, os conceitos do cristianismo genuíno e atentar para várias vertentes filosóficas e desejo de conhecer mais sobre os nomes citados no texto como o do judeu teólogo Moisés Maimônides, o árabe Averrois que usou a filosofia aristotélica em prol de Deus e o próprio Aristóteles como um grande pensador naturalista.
O texto em suma, desperta grande curiosidade em conhecer o Aquinate, assim como despertou um grande desejo de apreciar mais toda a criação como espelho de Deus.


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