terça-feira, 24 de junho de 2014

ENTRE A CASA E A ROÇA



O texto tem como finalidade discutir as trajetórias do processo de socialização de habitantes conforme uma determinada religião, o Candomblé. Em Uma sociedade que tem como uma socialização secundária a religião e a primária é o âmbito familiar, pois de alguma uma forma foi inserida quando criança seja voluntariamente ou não. Estes adeptos conhecem o candomblé através de parentes que tem uma vida cotidiana dentro da própria religião, criando-se um vinculo e aprofundando as relações afetivas entre eles. A família tem uma grande influência neste ponto, quando induzem seus filhos a freqüentarem ou até mesmo fazerem parte de uma determinada religião, pois de uma maneira colocamos a eles que isso é uma tradição de família seguir uma determinada religião, e hoje é o que mais vimos filhos de pastores que seguiam o cristianismo porque o pai quis  assim e hoje são adeptos a outras religiões. Pode-se dizer, sendo assim uma conversa as vezes informal com outras pessoas, parentes ou amigos os leva a curiosidade de conhecer e ingressar na religião uma vez que a experiência com o sagrado fica marcada no próprio individuo, há de se levar em consideração também que desde cedo os indivíduos já mantém contato com as entidades, que são os orixás, caboclos, exus, erês...
O texto mostra que, dos vinte entrevistados, seis apenas cresceram dentro do candomblé, frequentando rituais religiosos, com parentes já fazendo parte desta comunidade, sendo assim dando continuidade sem maiores problemas sua opção religiosa, sem conflitos.

Se fizermos uma observação quase todos tiveram contato com as chamada entidades (caboclos), exus, erês etc. Porém oito desses não tiveram uma grande investida na religião e não influenciaram na escolha de seus filhos. Alguns já possuem uma grande responsabilidade dentro do ambiente religioso, são chamados de pais e mães de santo e seus filhos são denominados filhos de santo. Uma das partes mais interessantes a ser estudada é a de que um muitos deles se iniciaram pelo espiritismo, participando de mesa branca, que consiste em uma forma de religiosidade indefinida entre o espiritismo kardecista, a umbanda e o candomblé, e a partir dessa forma de religiosidade se aproximaram do Candomblé. Ritual que era praticados nas casas dos informantes e inseridos pelas próprias famílias, e culturalmente mais aceitos que o Candomblé na sociedade, por participar deles, supostamente, pessoas com o nível de escolaridade mais alto e de situação financeira mais favorável.
A relação bairro e a casa são importantes entre as camadas populares para a socialização do Candomblé. O terreiro se torna um espaço aglutinador entre a comunidade, fazendo às vezes de ponto de encontro, tanto para rituais religiosos (como lugar de culto, tratamento) ou diversão, que são as festas. Sendo assim, o individuo acaba buscando interesse em conhecer a religião, que às vezes não são religiões dos seus pais, mais por ter alguém, para levá-los tomam o gosto (pelo prazer da festas ou satisfação pessoal) ou já tem contato com a entidade e aceitam o convite para voltar. Independente de tomarem gosto tem a questão da obrigação, que está relacionada com a idéia de herança, diz-se que o orixá além de ter a característica particular da pessoa, se faz também pelo traço de sua família, para dar à leitura de uma obrigação herdada e cuidar dela, significa saldar uma divida contraída no passado da família e evitar o sofrimento dos que a ignoraram. Portanto, é um laço denso construído historicamente pela família. Como também, as histórias de incorporações e possessões contribuem para consolidar alianças nas redes parentesco, e mesmo que eles não se efetivem em algum terreiro, os cuidadores das entidades fazem uma assentamento em sua casa ( separar um quarto com as oferendas, imagens, etc..) em referencia ao parente que devotava tal entidade. E expor a história dos assentamentos. de fora da casa, é como se estivesse expondo esses laços afetivos entre o cuidados e o devoto de seu orixá, que geralmente é alguém da família.
Além do espaço doméstico, os, exus, erês, caboclos, se fazem presentes na rua. Como vimos anteriormente, muitas entidades se fazem presentes no cotidiano dos médiuns, até muito antes deles serem iniciados no candomblé, então algumas incorporações se efetivavam em espaços públicos, como festas, bares e etc.. Ou seja, as entidades, servem como agentes ativos do processo de socialização entre a comunidade, já que, segundo os relatos, a entidade se socializava bem antes que o médium, fazendo com que depois esse médium criasse laços através da entidade, como se ela tivesse a função de facilitadora. Vale ressaltar que essas entidades exercem a função tanto para estreitar laços (conversando com as pessoas e as pessoas registrado na memória o momento da possessão para depois repassar ao médium) como também para acabar com laços quando a entidade não quer. Os exus, orixás, erês, ganham notoriedade quando atuam diretamente na vida dos filhos e pessoas próximas, dando a continuidade histórica dessa relação.
 Portanto, a autora conclui que a trajetória no candomblé dos soteropolitanos se dá mais por continuidade dessas relações construídas historicamente por herança do que por rupturas nas relações sociais, e que essas trajetórias de socialização não se dão apenas no espaço institucional, que é o terreiro, mas na casa e na rua, dando um significado mais denso e completo que permeiam a vida social do individuo na comunidade.

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